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Orvalhágrimas

ORVALHÁGRIMAS

(à luz dos Pensamentos de Blaise Pascal,
Fragmentos 72, 194, 205 a 208 e 227)

Esse silêncio eterno dos espaços
infinitos me assombra e me apavora.
Quando penso na vida mundo afora
é em minha pequenez que me embaraço.

Por que se fazem escassos tempo e hora?
Por que tão breve a lide em curto laço,
tão tênue a sua lembrança como o abraço
dado a quem, mal chegando, já vai embora?

Só vejo obscuridades, mãos do agora,
que me encerram num átomo de sombra;
somos hóspedes de um dia no albergue,

lágrimas orvalhadas sobre a alfombra
secando à luz de um Sol que Deus nos ergue,
manhãs a refletir um Deus que chora.

Paulo Urban
10 de fevereiro, MMXVII
decassílabos heroicos

One Comment

  1. Cindia de Oliveira disse:

    Querido amigo Paulo Urban, parabéns!

    ” O silêncio é a resposta mais sábia e complexa que há,
    Os desassossegos da alma são aquietados,
    Os corações não machucados e as almas são curadas pela complexidade dos momentos contemplados e emudecidos.
    Há beleza e humildade no silêncio além de reconexão com o nosso âmago”.

    Uau, querido amigo! Obrigda por evocar tanta inspiração com sua delicadeza poética!

    Um beijo da amiga e casal de fãs Flavio e Cindia

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